À semelhança da impressão em 2 dimensões também a impressão em 3
dimensões surge da necessidade de poder produzir e reproduzir de uma maneira económica
e universal o mais simples pensamento humano.
Até aqui a impressora e fotocopiadora permitiram que, uma receita de
culinária, uma carta de amor ou uma fórmula química com a cura para uma doença
fossem tratadas da mesma forma, pois tudo era facilmente impresso (produzido) e
ainda mais facilmente reproduzido.
No entanto a demanda por “produzir” de uma maneira fácil o pensamento
humano, mais tarde ou mais cedo teria de abarcar as 3 dimensões, pois o
pensamento humano não se limita a pensamentos escritos, mas também a
pensamentos formais onde a forma é tridimensional.
Rapidamente
apareceram aplicações práticas para esta tecnologia desde a área médica onde já
se fala de impressoras biológicas capazes de imprimir tridimensionalmente órgãos através do uso de células estaminais
– “3D-printed sugar network to help
grow artificial liver” in BBC_ http://www.bbc.co.uk/news/technology-18677627 ; “Scientists
Print 3D Object Using Stem Cells For The First Time” in France
Presse_ http://www.businessinsider.com/scientists-print-3d-object-using-stem-cells-2013-2 ; “3D
printing of real human tissue” - http://www.zdnet.com/3d-printing-of-real-human-tissue-7000006723/ ; “Organ Regeneration
Steps Closer With "3D Sugar Printing" - http://www.medicalnewstoday.com/articles/247344.php - a passar por
áreas relativas à prostética – “Two Makers Create 3D Printed Prosthetic Hand
For A 5-Year-Old Boy”_ http://techspy.com/news/1170287/two-makers-create-3d-printed-prosthetic-hand-for-a-5-year-old-boy ; “5-year-old
gets 3-D printed 'Robohand' from Internet collaborators”_ http://www.nbcnews.com/technology/futureoftech/5-year-old-gets-3-d-printed-robohand-internet-collaborators-1B8242915 - à mecânica - http://www.youtube.com/watch?v=Ie06z238w-Q ou http://www.youtube.com/watch?v=WmDz7Q9_h6c – industria automóvel - http://www.youtube.com/watch?v=uIbyYrqtMes – e inclusive ao armamento no género faça
você mesmo a sua arma:
“Gunsmithing
with a 3D printer – Part 1”_ http://haveblue.org/?p=1041
“Gunsmithing
with a 3D printer – Part 2”_ http://haveblue.org/?p=1321
“Gunsmithing
with a 3D printer – Part 3”_ http://haveblue.org/?p=1349 .
No que concerne a Arquitectura, já existem diversas linhas de pensamento
que defendem a impressão 3D (e neste caso podemos incluir a “extrusão” como se
tratasse de 1 tipo de impressão 3D – Extrusão_ “Extrudir é forçar a passagem de
um material através de um orifício.
Defendido à várias décadas por Jacque Fresco
no seu conceito de reforma de paradigma social como uma das soluções para o crescimento
e construção do novo modelo urbano usando sistemas automatizados e de baixo “custo”
(apesar desse novo modelo defender a extinção do sistema financeiro), mas, em
teoria, com maior qualidade - http://www.thevenusproject.com/
Na indústria em geral, a extrusão de um material é usada para
dar forma a ele e conferir determinadas características. (…) Podem ser extrudidas
peças longas com a secção transversal no formato que se deseja e,
posteriormente, seccioná las de modo a produzir diversas peças com a mesma secção transversal de uma só vez.
Na Arquitectura poderia ser aplicada na fabricação de “torres” ou arranha-céus,
quer na horizontal e depois fazer o transporte e rotação da secção, quer na
vertical directamente no local
Para além
disso existe já também há vários anos o conceito denominado “Contour Crafting” - http://www.contourcrafting.org/ - muito
desenvolvido pela University of Southern California (USC) -
que especifica o processo construtivo envolvido na impressão de edificado.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=idTj5JXgoLs
Recentemente as inovações da impressão 3D tem alimentado esta ideia de que a construção e ampliação do edificado ficará ao alcance de todos. Inclusive a NASA apresentou o conceito de construção de uma base lunar baseado em “Contour Crafting” (CC).
Mas o que
nos pode de facto oferecer a impressão 3D actualmente?
O Dr. Behrokh
Khoshnevis, mentor da investigação já referida da USC, já elaborou
diversos protótipos bem-sucedidos, que imprimem usando betão. O próprio
Khoshnevis afirma que o sucesso do CC reside na existência dos materiais que
ele propõe (betão, argamassa, argila, etc.). A questão neste caso é o modo de
execução e não a diferença dos materiais.
Estima-se que no caso do CC o custo e o tempo de execução
do elemento estrutural desça cerca de 40%, caso o elemento estrutural seja
também o elemento de face, e não requeira qualquer acabamento moroso, esse
valor pode baixar drasticamente.
Para além do betão existe um leque de técnicos e
entusiastas que apostam em materiais novos para técnicas novas.
A Stratasys - http://objet.com/ - considerada um gigante da impressão 3D
apresenta imensos materiais, que se podem dividir em várias categorias:
Altas
Temperaturas;
Bio - Compatibilidade;
Semelhante
a plásticos ABS (acrylonitrile butadiene
styrene);
Transparentes;
Opacos
Rígidos;
Semelhante a Polipropileno (polypropylene);
Semelhante
a Borracha
Cada uma destas categorias tem especificidades técnicas
semelhantes em quantidade e qualidade aos materiais industriais que todos
compramos já “editados”.
Fica aqui uma sugestão, para além da Stratasys, com as
especificidades dos diversos materiais - http://www.mediacopy.co.uk/3d_printing_material_properties.htm
-
Aliados a estas capacidades, existem alguns arquitetos que já planeiam intervenções
com impressão 3D, como por exemplo o estúdio “softkill design” - http://www.softkilldesign.com
Onde os
próprios afirmam:
“(…)investigates the architectural potential
of the latest Selective Laser Sintering technologies, testing the boundaries of
large scale 3D printing by designing with computer algorithms that
micro organize the printed material itself. With the support of
Materialise, Softkill Design produced a high resolution prototype of a 3D
Printed house at 1:33 scale. The model consists of 30 detailed fibrous pieces
which can be assembled into one continuous cantilevering structure, without
need for any adhesive material. The arrangement of 0.7mm radius fibres displays
a range of flexible textures and the ability to produce in-built architectural
elements, such as structure, furniture, stairs, and façade, all in one
instance. The Softkill house moves away from heavy, compression based 3d
printing of on-site buildings, instead proposing lightweight, high resolution,
optimised structures which, at life scale, are manageable truck-sized pieces
that can be printed off site and later assembled on site.(…)
Ou o estúdio “universe
architecture” - http://www.universearchitecture.com/
Que tentam também utilizar a especificidade única da
impressão 3D para pensar a forma de outra maneira:
“One surface folded in an endless möbius
band. Floors transform into
ceilings, inside into outside. Production with innovative 3D printing
techniques. Architecture of continuity with an endless array of applicability.”
E com tudo isto surge o MIT a apresentar a “impressão 4D”
onde a impressão 3D ganha vida e através de um engenhoso sistema de impressão
onde são utilizadas nano-fibras que reagem de formas diferentes à água (umas
expandem e outras contraem), quando a impressão é mergulhada em água dobra-se sosinha
numa espécie de origami até atingir a forma desejada.
À data desenvolveram dois projectos onde duas palhinhas se
moldam uma para formar a palavra MIT e outra para formar um cubo.
Também saidínhos do MIT surgem ainda Peter Dilworth e
Maxwell Bogue que apresentam ao mundo a sua 3Doodler,
uma caneta que escreve em 3 dimensões e possibilita a representação em tempo e
espaço real de conceitos que até aqui só se viam em representações 2D.
O que podemos concluir com isto tudo?
Não me parece que a arquitectura num futuro próximo
esteja ameaçada, muito pelo contrário, no futuro próximo acho que as
potencialidades de pensar na arquitectura de uma forma nova são imensas, mas
acho que a médio longo prazo temos mais a temer do que a ganhar.
A verdade é que não me é difícil imaginar projectos de
casas, anexos e marquises a circularem pela net e qualquer um,
independentemente de qualquer legislação, plano director ou qualquer outro regulamento possam conter.
Ainda assim, penso que as oportunidades e potencialidades
são tantas que só o tempo o dirá se um dia poderemos produzir a nossa casa em
nossa própria casa.