quinta-feira, 21 de março de 2013

Produza a sua casa em sua própria casa…


À semelhança da impressão em 2 dimensões também a impressão em 3 dimensões surge da necessidade de poder produzir e reproduzir de uma maneira económica e universal o mais simples pensamento humano.

Até aqui a impressora e fotocopiadora permitiram que, uma receita de culinária, uma carta de amor ou uma fórmula química com a cura para uma doença fossem tratadas da mesma forma, pois tudo era facilmente impresso (produzido) e ainda mais facilmente reproduzido.

No entanto a demanda por “produzir” de uma maneira fácil o pensamento humano, mais tarde ou mais cedo teria de abarcar as 3 dimensões, pois o pensamento humano não se limita a pensamentos escritos, mas também a pensamentos formais onde a forma é tridimensional.

Rapidamente apareceram aplicações práticas para esta tecnologia desde a área médica onde já se fala de impressoras biológicas capazes de imprimir tridimensionalmente órgãos através do uso de células estaminais 3D-printed sugar network to help grow artificial liver in BBC_ http://www.bbc.co.uk/news/technology-18677627 ; Scientists Print 3D Object Using Stem Cells For The First Time in  France Presse_ http://www.businessinsider.com/scientists-print-3d-object-using-stem-cells-2013-2 ; “3D printing of real human tissue” - http://www.zdnet.com/3d-printing-of-real-human-tissue-7000006723/ ; “Organ Regeneration Steps Closer With "3D Sugar Printing" - http://www.medicalnewstoday.com/articles/247344.php - a passar por áreas relativas à prostéticaTwo Makers Create 3D Printed Prosthetic Hand For A 5-Year-Old Boy_ http://techspy.com/news/1170287/two-makers-create-3d-printed-prosthetic-hand-for-a-5-year-old-boy ; 5-year-old gets 3-D printed 'Robohand' from Internet collaborators_ http://www.nbcnews.com/technology/futureoftech/5-year-old-gets-3-d-printed-robohand-internet-collaborators-1B8242915 - à mecânica - http://www.youtube.com/watch?v=Ie06z238w-Q ou http://www.youtube.com/watch?v=WmDz7Q9_h6c – industria automóvel - http://www.youtube.com/watch?v=uIbyYrqtMes – e inclusive ao armamento no género faça você mesmo a sua arma:
Gunsmithing with a 3D printer – Part 1_ http://haveblue.org/?p=1041
 Gunsmithing with a 3D printer – Part 2_ http://haveblue.org/?p=1321
Gunsmithing with a 3D printer – Part 3_ http://haveblue.org/?p=1349  .

No que concerne a Arquitectura, já existem diversas linhas de pensamento que defendem a impressão 3D (e neste caso podemos incluir a “extrusão” como se tratasse de 1 tipo de impressão 3D – Extrusão_ “Extrudir  é forçar a passagem de um material através de um orifício.

Defendido à várias décadas por Jacque Fresco no seu conceito de reforma de paradigma social como uma das soluções para o crescimento e construção do novo modelo urbano usando sistemas automatizados e de baixo “custo” (apesar desse novo modelo defender a extinção do sistema financeiro), mas, em teoria, com maior qualidade - http://www.thevenusproject.com/



Na indústria em geral, a extrusão de um material é usada para dar forma a ele e conferir determinadas características. (…) Podem ser extrudidas peças longas com a secção transversal no formato que se deseja e, posteriormente, seccioná las de modo a produzir diversas peças com a mesma secção transversal de uma só vez.  
Na Arquitectura poderia ser aplicada na fabricação de “torres” ou arranha-céus, quer na horizontal e depois fazer o transporte e rotação da secção, quer na vertical directamente no local 

Para além disso existe já também há vários anos o conceito denominado “Contour Crafting” - http://www.contourcrafting.org/ - muito desenvolvido pela University of Southern California (USC) - que especifica o processo construtivo envolvido na impressão de edificado.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=idTj5JXgoLs










Recentemente as inovações da impressão 3D tem alimentado esta ideia de que a construção e ampliação do edificado ficará ao alcance de todos. Inclusive a NASA apresentou o conceito de construção de uma base lunar baseado em “Contour Crafting” (CC).








Mas o que nos pode de facto oferecer a impressão 3D actualmente?

O  Dr. Behrokh Khoshnevis, mentor da investigação já referida da USC, já elaborou diversos protótipos bem-sucedidos, que imprimem usando betão. O próprio Khoshnevis afirma que o sucesso do CC reside na existência dos materiais que ele propõe (betão, argamassa, argila, etc.). A questão neste caso é o modo de execução e não a diferença dos materiais.

Estima-se que no caso do CC o custo e o tempo de execução do elemento estrutural desça cerca de 40%, caso o elemento estrutural seja também o elemento de face, e não requeira qualquer acabamento moroso, esse valor pode baixar drasticamente.

Para além do betão existe um leque de técnicos e entusiastas que apostam em materiais novos para técnicas novas.

A Stratasys - http://objet.com/ - considerada um gigante da impressão 3D apresenta imensos materiais, que se podem dividir em várias categorias:

Altas Temperaturas;
Bio - Compatibilidade;
Semelhante a plásticos ABS (acrylonitrile butadiene styrene);
Transparentes;
Opacos Rígidos;
Semelhante a Polipropileno (polypropylene);
Semelhante a Borracha

Cada uma destas categorias tem especificidades técnicas semelhantes em quantidade e qualidade aos materiais industriais que todos compramos já “editados”.

Fica aqui uma sugestão, para além da Stratasys, com as especificidades dos diversos materiais - http://www.mediacopy.co.uk/3d_printing_material_properties.htm -




 

Aliados a estas capacidades, existem alguns arquitetos que já planeiam intervenções com impressão 3D, como por exemplo o estúdio “softkill design” - http://www.softkilldesign.com

 




Onde os próprios afirmam:

(…)investigates the architectural potential of the latest Selective Laser Sintering technologies, testing the boundaries of large scale 3D printing by designing with computer algorithms that micro organize the printed material itself. With the support of Materialise, Softkill Design produced a high resolution prototype of a 3D Printed house at 1:33 scale. The model consists of 30 detailed fibrous pieces which can be assembled into one continuous cantilevering structure, without need for any adhesive material. The arrangement of 0.7mm radius fibres displays a range of flexible textures and the ability to produce in-built architectural elements, such as structure, furniture, stairs, and façade, all in one instance. The Softkill house moves away from heavy, compression based 3d printing of on-site buildings, instead proposing lightweight, high resolution, optimised structures which, at life scale, are manageable truck-sized pieces that can be printed off site and later assembled on site.(…)


Ou o estúdio “universe architecture” - http://www.universearchitecture.com/



Que tentam também utilizar a especificidade única da impressão 3D para pensar a forma de outra maneira:
One surface folded in an endless möbius band. Floors transform into ceilings, inside into outside. Production with innovative 3D printing techniques. Architecture of continuity with an endless array of applicability.

E com tudo isto surge o MIT a apresentar a “impressão 4D” onde a impressão 3D ganha vida e através de um engenhoso sistema de impressão onde são utilizadas nano-fibras que reagem de formas diferentes à água (umas expandem e outras contraem), quando a impressão é mergulhada em água dobra-se sosinha numa espécie de origami até atingir a forma desejada.

À data desenvolveram dois projectos onde duas palhinhas se moldam uma para formar a palavra MIT e outra para formar um cubo.




Também saidínhos do MIT surgem ainda Peter Dilworth e Maxwell Bogue que apresentam ao mundo a sua 3Doodler, uma caneta que escreve em 3 dimensões e possibilita a representação em tempo e espaço real de conceitos que até aqui só se viam em representações 2D.


O que podemos concluir com isto tudo?

Não me parece que a arquitectura num futuro próximo esteja ameaçada, muito pelo contrário, no futuro próximo acho que as potencialidades de pensar na arquitectura de uma forma nova são imensas, mas acho que a médio longo prazo temos mais a temer do que a ganhar.

A verdade é que não me é difícil imaginar projectos de casas, anexos e marquises a circularem pela net e qualquer um, independentemente de qualquer legislação, plano director ou qualquer outro  regulamento possam conter.

Ainda assim, penso que as oportunidades e potencialidades são tantas que só o tempo o dirá se um dia poderemos produzir a nossa casa em nossa própria casa.