terça-feira, 4 de junho de 2013

Carla Juaçaba

Nascida em 1976, é arquitecta e investigadora independente desde 2000 no Rio de Janeiro.

Nos tempos de estudante chegou a trabalhar com a arquitecta Gisela Magalhães, da geração de Niemeyer, principalmente envolvida nas áreas de exposições relacionadas com as artes nativas brasileiras e museus históricos.

Após a faculdade, trabalhou em conjunto com o arquitecto Mário Fraga no projecto "Atelier Casa".

Terá encetado numa série de projectos como por exemplo, o "Rio Bonito casa" (2005), a "Varanda House" (2007), a "Casa Mínima" (2008), "Santa Teresa House" em sua fase final (2012).

Numa fase mais recente inclui-se o pavilhão efémero concebido com a cenógrafa e directora de teatro Bia Lessa, "Humanidade 2012" para a Rio +20, uma reunião internacional realizada no Rio de Janeiro.

Carla Juaçaba é presença constante do meio académico e de ensino, bem como da pesquisa e investigação, palestras, exposições, bienais e, recentemente foi Júri no BIAU Bienal Ibero Americana em Madrid (2012).


Actualmente, está ensinando na FAU PUC-RJ Pontifícia Universidade Católica.



O seu trabalho é de uma minimalidade tropical que bebe a descontracção canarinha e de todos eles gostaria de salientar a:

- “Varanda House”:



É irresistível não me lembrar de Mies e Johnson quando vejo e revejo estas imagens.

As linhas, a transparência e o despojo.






Na minha opinião existem também referências de Khan em pequenos apontamentos como a simetria transversal e a métrica.



Um Projecto incrivelmente simples que veio “roubar” o lugar de uma ideia da cliente de construir uma casa semelhante à famosa “Casa Lota Macedo Soares” (idealizada pelo seu avô Sérgio Bernardes) .


Desenhado com a atitude crua de implantar pela força, a dureza do rectângulo nas curvas da mata da Barra da Tijuca, a planta é incrivelmente intuitiva e recupera a nua verdade das divisões.





Não há divisões de antecipação, antecâmaras, corredores ou divisão entre publico e privado.





Tudo é publico e tudo é privado.



As divisões saltam de umas para as outras como se estivéssemos a falar de uma qualquer intervenção inventariada no Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa.






- “Rio Bonito”:




A casa é tão inteligente em concepção e distribuição que a simples explicação da criadora é suficiente para entendermos a inteligência com que encarou este projecto:

“A proximidade do rio tornou-se fator determinante para o partido adotado. Dois espessos muros de pedras, sustentam quatro vigas metálicas nas quais se apoiam as lajes de piso e cobertura. O peso da estrutura contrasta com a leveza do vão , realçada por duas cláraboias que separam a laje de cima dos muros estruturais. Na parede dos fundos as janelas são rasgos do chão ao teto que dão continuidade vertical à horizontalidade das claraboias. A casa suspensa do chão, fica protegida da umidade e intempéries, e ao mesmo tempo permite a visão do rio passando ao largo. Nos muros de pedra um fogão a lenha e uma lareira, um de cada lado da casa, garantem o aquecimento dos ambientes.No exterior, a escada construida pela subtração escalonada das pedras do muro leva ao terraço: observatório de estrelas. Água e fogo, peso e leveza, arcáico e moderno na cosmologia do habitat.”



A simplicidade da estratégia e o resultado final é quase como ouvirmos a explicação de um avião e entendermos que a beleza que ele emana existe porque tem que ser e não por um qualquer ornamento artificial.


















A coerência linguística das suas obras demonstram um imenso valor académico e um enorme potencial prático.

Poderíamos discutir a sua aplicabilidade em termos de concepção em massa urbana densa, mas a questão não se põe aí, põe-se sim na vontade que teríamos de o ver realizado e a convicção que um pode ter em ver esta qualidade disseminada.

Eu pessoalmente, acredito que nada de mau pode advir do brilhantismo académico.


Essa mesma coerência pode ser constatada na sua mais famosa obra, imagem de marca do evento Rio+20 (Conferencia da Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável):


- “Pavilhão efémero Rio+20” (pavilhão Humanidade 2012)






Nas palavras da autora:

“Pavilhão temporário para o Rio+20. A proposta é um edifício andaime, translúcido, exposto a todas as condições do tempo: luz, calor, chuva, barulho do mar e do vento, colocando ou lembrando o homem da sua condição frágil diante da natureza. A estrutura é composta de cinco paredes estruturais de 170m x 20 metros de altura, com afastamento de 5,40m entre elas, criando um percurso suspenso na natureza do Rio de Janeiro, interrompido quando se faz necessário uma reflexão, através dos espaços de pensamentos.

As salas expositivas são o contraventamento da estrutura, dando rigidez a todo conjunto. A escolha do material utilizado, é sustentável no sentido de ser 100% reutilizado. É um projeto feito da matéria de outros projetos, ou seja, O andaime sai da fachada que constrói os edifícios para ser um edifício. É um material que foi e será de outros eventos.”

Em Portugal recentemente soubemos que o Pavilhão de Portugal destinado à Expo98, também um evento efémero, foi projectado e construído sem qualquer programa posterior e ainda assim parece que foi idealizado para durar uma vida. Hoje encontra-se ao abandono ao ponto de o autor sugerir a demolição como solução mais digna para o edifício.


Serve este exemplo de contraponto, por ser completamente antagónico ao exemplo do pavilhão Humanidade 2012 onde a ideia de que um edifício icónico não tem que durar para sempre e que o que é realmente importante é aquilo que se vive, aprende e se retém no uso do edifício.




































































Com isto não quero dizer que a partir de agora todos os projectos icónicos devam ser feitos em andaimes, contentores, paletes de madeira ou um qualquer material reciclado e de fácil desmontagem. Quero apenas salientar a sinceridade do edifício e que, tal como nas obras anteriores, o resultado final é belo porque tinha ser e não por causa de um qualquer ornamento artificial.

Referências:
http://www.carlajuacaba.com.br/filter/portugues/Pavilhao-Humanidade2012http://www.humanidade2012.net/galerias/fotos/lista-de-imagem/?gid=62&albumid=122http://www.designboom.com/architecture/carla-juacaba-pavilion-humanidade/http://www.archdaily.com/344808/brazilian-architect-carla-juacaba-wins-inaugural-arcvision-women-and-architecture-prize/http://www.archdaily.com.br/102922/arquiteta-brasileira-carla-juacaba-e-contemplada-com-premio-italcementi/http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/carla-juacaba-pavilhao-rio-janeiro-10-10-2012.htmlhttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/12.138-139/4403http://www.livegreenblog.com/materials/pavilion-humanidade-2012-for-rio-+20-carla-juaandccedilaba-8572/http://www.italcementigroup.com/ENG/Media+and+Communication/News/Building+and+Architecture/20130307.htmhttp://www.constructalia.com/english/case_studies/brazil/veranda_househttp://comover-arq.blogspot.pt/2012/05/casa-varanda-carla-juacaba.htmlhttp://www.homedsgn.com/2013/05/07/rio-bonito-house-by-carla-juacaba/http://www.architizer.com/en_us/projects/view/rio-bonito-house/52501/#.UakaOkCL2Sohttp://www.designboom.com/architecture/carla-juacaba-rio-bonito-house-brazil/http://architectism.com/rio-bonito-house-by-carla-juacaba/http://www.carlajuacaba.com.br/filter/portugues/Casa-Rio-Bonito
http://www.carlajuacaba.com.br/filter/portugues/Casa-Rio-Bonito