sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Cidades Circulares


Em Novembro de 2012, surgiu uma proposta pelo gabinete FR-EE (Fernando Romero) de concepção urbana, onde a cidade radial e hexagonal se “fundem” para formar um conceito de gestão territorial diferente e optimizada.






Este modelo pouco tem de novo, e já teve no passado algumas tentativas de aplicação prática, mas que pouco impacto tiveram, principalmente porque os resultados foram pouco esclarecedores quanto aos benefícios destes sistemas em grande escala.


Em 1593 foi fundada Palmanova em Itália, idealizada principalmente para fins militares, no entanto a história mostra-nos que os fins militares são acima de tudo fins funcionais:

Tommaso Campanella em 1602 desenvolve a cidade do Sol, um conceito utópico que encerra em si qualquer evolução urbana, social e pedagógica. Fixa a hierarquia através da ordem que a estratificação física torna também social:



Em 1902, Ebenezer Howard escreveu “Garden Cities of Tomorrow” onde predomina a ideia de uma cidade ideal onde convive o campo e a cidade. O verdadeiro autor da cidade jardim (ao contrario de Le Corbusier) idealizou cidades radiais que convivem radialmente em torno da cidade central e onde se pretende uma igual proximidade ao campo entre todos os habitantes diminuindo assim a tensão social pela escassez de recursos alimentares. Apesar de ser um plano utópico e quase todos os diagramas que nos chegaram apresentarem o apontamento que a implantação depende do local a escolher, esta ideia sempre contaminou o imaginário humano de que uma cidade nova e circular representa uma ideia de futuro.

Podemos ver isso na actual série de televisão TerraNova onde um grupo de colonos, numa tentativa de salvar a espécie humana, viajam no tempo para um passado onde é possível a civilização começar do inicio e sem quaisquer barreiras culturais ou de património constroem uma cidade eco eficiente e sustentável que apresenta a forma e funcionamento circular um pouco à imagem de todos estes exemplos




Outro exemplo da tentativa de aplicação destes princípios deu-se quando da mudança da capital da India de Calcuta para Delhi em 1911.

Edwin Lutyens foi o Arquitecto responsável pelo plano principal onde tentou aplicar alguns princípios, principalmente os princípios de circulação circular através da conversão do círculo em hexágono.



O resultado foi muito singelo e a verdade é que existem algumas vozes que afirmam que no fim foi dada mais importância a um plano para exaltar o ego do arquitecto, do que um ato de urbanismo em si.


Existem depois alguns outros trabalhos e estudos que rodam muito em torno do mesmo, gostaria só de salientar mais um.

“The Venus Project” - http://www.thevenusproject.com

Conceito apresentado por Jacque Fresco, mas que, como podemos ver,  não é de todo original.

O conceito é mais abrangente do que apenas a visão urbanística. Trata-se de uma ideia de sociedade renovada em que a construção de novas cidades e não a renovação faz parte da estratégia.

O fim do dinheiro, dos empregos, da pobreza e das guerras por recursos é o tópico que guia esta renovação urbana a nível planetário.

Com ideias de cidades terrestres e marítimas a apresentar o conceito radial, existe um conceito de construção, uso e distribuição mecânica de todos os recursos.

À semelhança de todos estes exemplos, o gabinete FR-EE apresenta agora a sua versão da cidade ideal/radial com todos conceitos refrescados em vistosos render’s, mas, mais uma vez temos a ideia de que este conceito seja apenas viável quando a escala é total, ou seja, a totalidade da cidade ou do mundo.

Nenhum dos exemplos anteriores demonstra a exequibilidade destas propostas como complemento a cidades já existentes e como tal continua a ser apenas propostas utópicas e idealistas, mas sem aplicação pratica, pelo menos, …, no modelo social em que vivemos (é a única coisa que distingue o valor das propostas todas em relação ao Projecto Venus).


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Lições a tirar...






“(…)O Tribunal entendeu haver uma relação de causa- -efeito entre o que considerou ser falta de planeamento e de organização das obras de requalificação urbana da cidade(…)” – JN


“(…)O juiz da Varas Cíveis do Porto, que julgou e considerou procedente a acção movida pela Associação de Comerciantes do Porto, entendeu que o impacto das diversas empreitadas da Capital Europeia da Cultura foi “de tal forma grave e sensível” que provocou “uma diminuição no afluxo de clientes à zona”, com reflexos negativos no negócio dos lojistas afectados(…)Esta é a primeira vez que um tribunal decide, em circunstâncias semelhantes, a favor dos comerciantes, “tendo por base uma acção por prejuízos causados devido à realização de obras públicas”, sublinha o advogado que compara o processo à “luta entre David e Golias”. “Foi corajosa e condenou quem devia(…)” – Porto24


“(…)Tribunal Cível do Porto considerou que as obras levadas a cabo no contexto da Porto 2001, prejudicaram vários comerciantes da zona da Baixa(…)” – JPN



(…)No relatório, o TC referiu que as obras de requalificação urbana da cidade “não beneficiaram, antes perturbaram, a vivência do evento”.

“Não concorreram para a captação de públicos à cidade e, por isso, em nada contribuíram para que o Porto tivesse podido oferecer aos seus visitantes a imagem de uma cidade renovada e cativante, tal como se tinha perspectivado inicialmente”, lia-se no documento.
No total, as obras de requalificação urbana custaram 80 milhões de euros, mais 16,6 milhões do que o previsto, apesar de terem sido realizadas menos 14% das intervenções planeadas na baixa portuense.
Adicionalmente, disse o TC, as obras terminaram “com atrasos superiores a um ano”(…)” – SOL



Foi um raio de sol que tive no fim de 2012 quando a Justiça defendeu vítimas de mau planeamento.
Finalmente, ao fim de décadas foi possível ver que o planeamento, o urbanismo, o acto de projectar influencia a cidade e os hábitos dos seus cidadãos logo da concepção.

Infelizmente, tendo em conta o período de recessão e crise, a única coisa que transpareceu de todos estes cabeçalhos de noticias é a quantidade de dinheiro que o estado ainda teria que somar a esse orgulhoso défice que teimosamente não baixava.

Digo infelizmente porque neste caso existe tanto a aprender, mas que para isso acontecer é necessário parar e perguntar o porquê, como, quem, com que formação, baseado em que estudos, etc, etc, etc.

Em vez disso estas noticias venderam meia dúzia de cabeçalhos e por ai ficámos.
Não existiram análises, não existiram conclusões, não tirámos nada de nada.
E aquilo que não aprendemos neste caso e em tantos outros é muito mais caro do que qualquer indemnização que o Estado venha a pagar, porque quem não aprende com o passado tende a repetir os erros no futuro.


O que é que havia a aprender?


Tudo



Fotografia de Pedro Brochado Lemos em "http://acasadosdiscus.blogspot.pt/"