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Vale a pena verificar, do desastre natural/necessidade surgiu um projecto de sinceridade, humildade e que responde ao problema, resta saber o futuro dele, pois como qualquer projecto, depois de prontos não congelam no tempo e precisam de se adaptar.
"Parece que foi ontem, que o meu querido amigo Souto Moura me disse que durante 10 anos não haveria possibilidade de eu mostrar o que valho. Mas hoje, em 2022, após este hiato de 10 anos, eu, a Arquitetura, estou de volta. Vou descobrir este Portugal de 2022 e lembrar-me do que mudou nos últimos 10 anos, o que correu mal e o que podia ter sido feito melhor."
sábado, 29 de setembro de 2012
O Abandono
“Há várias décadas
que as grandes operações urbanas são financiadas por um grupo restrito de investidores,
concebido por um grupo igualmente restrito de vedetas mundiais da arquitectura,
construídas pelos mesmos grandes senhores da construção, sob várias designações
locais, e calculadas por gabinetes cada vez mais mundializados.” (in “O
Urbanismo depois da crise” de Alain Bourdin)
Coimbra em 30 anos manteve a sua população na ordem dos
120.000 habitantes em período lectivo, nesses mesmos 30 anos aumentou de área
urbana quase 70%.
Lisboa em 10 anos perdeu 17.000 habitantes para
freguesias exteriores, acumulando uma herança de 200.000 casas vazias.
Porto perdeu um terço da população nos últimos dez anos e
cerca de 44% dos alojamentos sem ninguém lá a morar. O Censos 2011 mostram que
há cerca de 3000 habitações vazias no centro histórico do Porto.
Em Portugal existem cerca de 735.000 casas vazias, para
uma população que tem vindo anualmente a decrescer.
Quando vemos estes resultados devemos achar que as
politicas que se praticaram foram as politicas correctas?
Penso que quase 40 anos de liberdade deveriam ter sido
mais do que suficientes para perceber que era necessário mudar. Mudar de
politicas, mudar formação, mudar de estratégia.
De todos os pontos de vista, Ambiental, Gestão de
Recursos, Qualidade de Vida, Sentido de Identidade Local, Organização
Territorial, Planeamento, etc., as vantagens de uma correcta gestão territorial
e urbanística torna-se um dever.
Mesmo que pensemos
do ponto de vista politico, continuo a não entender a falta de aposta e empenho
nesta questão, poupa-se dinheiro e recursos através da concentração de
infraestruturas (para exemplo, facilmente entendemos a diferença entre o “custo”
de água e saneamento de um prédio, ou do mesmo numero de fogos mas espalhados
territorialmente), ganha-se em economia local através dos moradores que as
localidades não perderam, ganha moradores de 2ªs e 3ªs gerações que, tendo escolha,
iriam preferir ficar nas zonas em cresceram, impostos relativos a imóveis,
aumento de utilização de transportes públicos locais (tornando-os mais
sustentáveis), etc.
Sei que pode parecer utopia, ingenuidade, mas tendo a
noção real de que nem tudo é atingível, deve pelo menos valer a estratégia,
reflexão, sentido de fazer.
“A Humanidade
precisa de sonhos para suportar a miséria; nem que seja por um instante.”
Oscar Niemeyer
Assim sendo gostaria de saber que em 2012 a Ordem e as
faculdades de Arquitectura, em coordenação com o Governo decidiram parar de
despejar para o mercado de trabalho arquitectos que não vão ter trabalho e que
renovassem a estratégia, a formação, o apoio à prática, etc.
Do que me lembro em 2022, quando decidi voltar, lembro-me
que muito se fez, mas muito ficou por fazer.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
O Regresso
Parece que foi ontem,
mas já lá vão 10 anos que o meu querido amigo Souto Moura me disse o inevitável
- que eu teria de sair do meu Portugal. Disse-me que durante 10 anos não
haveria possibilidade de eu mostrar o que valho.
É com pena, mas lembro-me bem de como estava.
Já não era alguém que os outros viam com carinho e respeito. Era tratado como
alguém elitista que não servia num país que não tem dinheiro.
Pensavam que não era
necessário e como tal que o dinheiro devia ser gasto noutras questões mais
essenciais.
Não entenderam que eu estou em todo lado, que sou tudo e não sou nada, que
sou o cheio e o vazio.
Talvez os meus representantes tenham caído na arrogância de achar que eu só
existo no complexo, quando ao longo da história me têm criado com muito e com
pouco dinheiro, com os materiais mais nobres, mas também com entulho e despojos
de outras vidas.
Talvez não tenha tido a melhor representação, principalmente no que toca
aquilo que “toca a todos”, as cidades, lentamente abandonadas, sacrificadas
pela falta de respostas que uns e outros nunca quiseram pesquisar.
Mas hoje, em 2022, após este hiato de 10 anos, eu, a Arquitetura, estou de
volta.
Vou descobrir este Portugal de 2022 e lembrar-me do que mudou nos últimos 10
anos, espero que este tempo tenha servido para refletir sobre o que correu mal
e o que podia ter sido feito melhor.
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