sábado, 29 de setembro de 2012

O Abandono



Há várias décadas que as grandes operações urbanas são financiadas por um grupo restrito de investidores, concebido por um grupo igualmente restrito de vedetas mundiais da arquitectura, construídas pelos mesmos grandes senhores da construção, sob várias designações locais, e calculadas por gabinetes cada vez mais mundializados.” (in “O Urbanismo depois da crise” de Alain Bourdin)

Coimbra em 30 anos manteve a sua população na ordem dos 120.000 habitantes em período lectivo, nesses mesmos 30 anos aumentou de área urbana quase 70%.

Lisboa em 10 anos perdeu 17.000 habitantes para freguesias exteriores, acumulando uma herança de 200.000 casas vazias.

Porto perdeu um terço da população nos últimos dez anos e cerca de 44% dos alojamentos sem ninguém lá a morar. O Censos 2011 mostram que há cerca de 3000 habitações vazias no centro histórico do Porto.


Em Portugal existem cerca de 735.000 casas vazias, para uma população que tem vindo anualmente a decrescer.

Quando vemos estes resultados devemos achar que as politicas que se praticaram foram as politicas correctas?

Penso que quase 40 anos de liberdade deveriam ter sido mais do que suficientes para perceber que era necessário mudar. Mudar de politicas, mudar formação, mudar de estratégia.

De todos os pontos de vista, Ambiental, Gestão de Recursos, Qualidade de Vida, Sentido de Identidade Local, Organização Territorial, Planeamento, etc., as vantagens de uma correcta gestão territorial e urbanística torna-se um dever.

Mesmo que  pensemos do ponto de vista politico, continuo a não entender a falta de aposta e empenho nesta questão, poupa-se dinheiro e recursos através da concentração de infraestruturas (para exemplo, facilmente entendemos a diferença entre o “custo” de água e saneamento de um prédio, ou do mesmo numero de fogos mas espalhados territorialmente), ganha-se em economia local através dos moradores que as localidades não perderam, ganha moradores de 2ªs e 3ªs gerações que, tendo escolha, iriam preferir ficar nas zonas em cresceram, impostos relativos a imóveis, aumento de utilização de transportes públicos locais (tornando-os mais sustentáveis), etc.

Sei que pode parecer utopia, ingenuidade, mas tendo a noção real de que nem tudo é atingível, deve pelo menos valer a estratégia, reflexão, sentido de fazer.

A Humanidade precisa de sonhos para suportar a miséria; nem que seja por um instante.” Oscar Niemeyer

Assim sendo gostaria de saber que em 2012 a Ordem e as faculdades de Arquitectura, em coordenação com o Governo decidiram parar de despejar para o mercado de trabalho arquitectos que não vão ter trabalho e que renovassem a estratégia, a formação, o apoio à prática, etc.

Do que me lembro em 2022, quando decidi voltar, lembro-me que muito se fez, mas muito ficou por fazer.

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