“Há várias décadas
que as grandes operações urbanas são financiadas por um grupo restrito de investidores,
concebido por um grupo igualmente restrito de vedetas mundiais da arquitectura,
construídas pelos mesmos grandes senhores da construção, sob várias designações
locais, e calculadas por gabinetes cada vez mais mundializados.” (in “O
Urbanismo depois da crise” de Alain Bourdin)
Coimbra em 30 anos manteve a sua população na ordem dos
120.000 habitantes em período lectivo, nesses mesmos 30 anos aumentou de área
urbana quase 70%.
Lisboa em 10 anos perdeu 17.000 habitantes para
freguesias exteriores, acumulando uma herança de 200.000 casas vazias.
Porto perdeu um terço da população nos últimos dez anos e
cerca de 44% dos alojamentos sem ninguém lá a morar. O Censos 2011 mostram que
há cerca de 3000 habitações vazias no centro histórico do Porto.
Em Portugal existem cerca de 735.000 casas vazias, para
uma população que tem vindo anualmente a decrescer.
Quando vemos estes resultados devemos achar que as
politicas que se praticaram foram as politicas correctas?
Penso que quase 40 anos de liberdade deveriam ter sido
mais do que suficientes para perceber que era necessário mudar. Mudar de
politicas, mudar formação, mudar de estratégia.
De todos os pontos de vista, Ambiental, Gestão de
Recursos, Qualidade de Vida, Sentido de Identidade Local, Organização
Territorial, Planeamento, etc., as vantagens de uma correcta gestão territorial
e urbanística torna-se um dever.
Mesmo que pensemos
do ponto de vista politico, continuo a não entender a falta de aposta e empenho
nesta questão, poupa-se dinheiro e recursos através da concentração de
infraestruturas (para exemplo, facilmente entendemos a diferença entre o “custo”
de água e saneamento de um prédio, ou do mesmo numero de fogos mas espalhados
territorialmente), ganha-se em economia local através dos moradores que as
localidades não perderam, ganha moradores de 2ªs e 3ªs gerações que, tendo escolha,
iriam preferir ficar nas zonas em cresceram, impostos relativos a imóveis,
aumento de utilização de transportes públicos locais (tornando-os mais
sustentáveis), etc.
Sei que pode parecer utopia, ingenuidade, mas tendo a
noção real de que nem tudo é atingível, deve pelo menos valer a estratégia,
reflexão, sentido de fazer.
“A Humanidade
precisa de sonhos para suportar a miséria; nem que seja por um instante.”
Oscar Niemeyer
Assim sendo gostaria de saber que em 2012 a Ordem e as
faculdades de Arquitectura, em coordenação com o Governo decidiram parar de
despejar para o mercado de trabalho arquitectos que não vão ter trabalho e que
renovassem a estratégia, a formação, o apoio à prática, etc.
Do que me lembro em 2022, quando decidi voltar, lembro-me
que muito se fez, mas muito ficou por fazer.
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