Parece que foi ontem,
mas já lá vão 10 anos que o meu querido amigo Souto Moura me disse o inevitável
- que eu teria de sair do meu Portugal. Disse-me que durante 10 anos não
haveria possibilidade de eu mostrar o que valho.
É com pena, mas lembro-me bem de como estava.
Já não era alguém que os outros viam com carinho e respeito. Era tratado como
alguém elitista que não servia num país que não tem dinheiro.
Pensavam que não era
necessário e como tal que o dinheiro devia ser gasto noutras questões mais
essenciais.
Não entenderam que eu estou em todo lado, que sou tudo e não sou nada, que
sou o cheio e o vazio.
Talvez os meus representantes tenham caído na arrogância de achar que eu só
existo no complexo, quando ao longo da história me têm criado com muito e com
pouco dinheiro, com os materiais mais nobres, mas também com entulho e despojos
de outras vidas.
Talvez não tenha tido a melhor representação, principalmente no que toca
aquilo que “toca a todos”, as cidades, lentamente abandonadas, sacrificadas
pela falta de respostas que uns e outros nunca quiseram pesquisar.
Mas hoje, em 2022, após este hiato de 10 anos, eu, a Arquitetura, estou de
volta.
Vou descobrir este Portugal de 2022 e lembrar-me do que mudou nos últimos 10
anos, espero que este tempo tenha servido para refletir sobre o que correu mal
e o que podia ter sido feito melhor.
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